História da Educação na Noruega nos últimos 800 anos: do século XII ao XXI

História da Educação na Noruega nos últimos 800 anos: do século XII ao XXI

26 de janeiro de 2025 Off Por Mateus Matos

A história da educação na Noruega abrange vários séculos e reflete profundas transformações sociais, culturais e políticas. No século XII, com a criação da arquidiocese de Nidaros em 1152, foram estabelecidas as primeiras katedralskoler (escolas catedrais) em cidades como Trondheim, Oslo, Bergen e Hamar, destinadas principalmente à formação do clero. Após a Reforma Protestante em 1537, essas instituições foram transformadas em latinskoler (escolas latinas), focadas na educação clássica para filhos da elite.

Em 1736, a instrução em leitura tornou-se obrigatória para todas as crianças, embora sua implementação efetiva tenha ocorrido gradualmente, com a introdução das omgangsskoler (escolas itinerantes) para atender áreas rurais. A Lei Escolar de 1860 representou um marco significativo, promovendo a substituição das escolas itinerantes por instituições fixas e estabelecendo as bases para uma educação primária mais estruturada. No final do século XIX, ocorreu uma “revolução educacional” na Noruega, caracterizada pela expansão e secularização do ensino público, além dos primeiros passos rumo a uma educação mais igualitária.

No século XX, a educação norueguesa continuou a evoluir. Em 1969, a escolaridade obrigatória foi estendida para nove anos, e em 1994, foi introduzido o direito legal ao ensino secundário para todos os jovens. Essas reformas refletem o compromisso contínuo da Noruega em fornecer uma educação inclusiva e de alta qualidade para toda a população.

História da Educação na Noruega

A norsk utdanningshistorie (história da educação norueguesa) remonta à alta Idade Média e esteve durante muito tempo fortemente ligada à igreja. Quando Nidaros (Trondheim) se tornou uma província eclesiástica com arcebispado em 1152, foi acompanhada pela criação de escolas catedrais baseadas no modelo europeu. Após a introdução da obrigatoriedade da confirmação religiosa para todos, a partir de 1739 foram fundadas allmueskoler (escolas comunitárias) em todo o país, com foco no ensino religioso e básico de leitura. A educação mais avançada era reservada a uma pequena elite que aprendia latim, enquanto as mulheres não tinham acesso a essas escolas de latim.

A Universidade de Oslo foi fundada em 1811, tornando-se a primeira universidade da Noruega. A partir de meados do século XIX, foi estabelecido um sistema educacional de três níveis. Nas folkeskoler (escolas populares), o ensino básico de leitura e formação geral era prioritário, e, por volta de 1870, quatro em cada cinco crianças frequentavam escolas regulares. Havia uma diferença marcante entre os caminhos educacionais nas zonas rurais e urbanas. Nas últimas décadas antes de 1900, ocorreu um avanço moderno em todos os níveis: além da religião, disciplinas como ciências exatas, línguas modernas, norueguês e história tornaram-se os principais conteúdos. Bokmål e nynorsk (as duas variantes do norueguês escrito) foram equiparados como línguas escolares, e as meninas obtiveram acesso à maioria das formações educacionais em igualdade com os meninos.

Em 1920, foi introduzida a folkeskole (escola popular) comum de sete anos, e a educação após essa etapa tornou-se mais frequente. Na década de 1960, foi implementada uma escola básica de nove anos, marcando o início da educação em massa. O nível educacional da população aumentou significativamente, especialmente após 1960 e 1990, com um crescimento mais acentuado para as mulheres do que para os homens. Durante esses períodos, foi estabelecida a escola do estado de bem-estar social. O objetivo era criar uma escola comum para todas as crianças e jovens, destinada a reduzir desigualdades, descobrir talentos e oferecer disciplinas e ensinamentos para a formação de indivíduos multifacetados e socialmente ativos.

Idade Média: Escolas de Latim e Guildas

Desde o início da Idade Média, as escolas catedrais representavam um sistema educacional internacional que se espalhou juntamente com o cristianismo ocidental. O latim era a base de uma cultura escrita comum na Europa católica. Essa tradição das escolas de latim chegou à Noruega quando Nidaros foi estabelecido como arcebispado em 1152. Cerca de 350 anos após as primeiras escolas catedrais na Europa, foram criadas escolas catedrais nas catedrais de Trondheim, Oslo e Bergen, e posteriormente também em Stavanger e Hamar. Além dessas, havia as escolas de mosteiro, que eram outros centros da cultura escrita em latim.

As escolas catedrais tinham originalmente a responsabilidade de formar sacerdotes, com disciplinas como leitura e escrita em latim, ensino cristão e canto. A partir da alta Idade Média, o idioma escrito nórdico antigo também foi relevante na legislação e vida na corte, sendo ensinado, mas sem constar como disciplina específica nas escolas catedrais. Em algumas cidades norueguesas, surgiram laug (guildas) por volta do ano 1300. As guildas eram associações de mestres artesãos que se desenvolveram nas comunidades urbanas medievais e serviram como estruturas históricas para a formação de aprendizes e mestres artesãos.

Reforma Protestante: Ensino Religioso para o Povo

Durante a Reforma Protestante, em 1539, o rei dinamarquês implementou uma kirkeordinans (ordenação eclesiástica), um conjunto de leis para uma igreja estatal luterana, que também se aplicava à Noruega. As escolas catedrais foram transformadas em escolas de latim protestantes. Após a Reforma, cada kjøpstad (cidade comercial) deveria ter uma “escola de latim”. Além disso, as crianças do povo deveriam ser ensinadas em cristianismo. Na prática, essas primeiras exigências de ensino universal tiveram poucos resultados visíveis.

Após 1730: Escolas Comunitárias, Escolas Burguesas e Primeiras Escolas Técnicas

O Pontoppidans forklaring (Catecismo de Pontoppidan), baseado no Luthers katekisme (Catecismo de Lutero), publicado como Sandhed til Gudfrygtighed (Verdade para a Piedade) em 1737, foi por mais de 150 anos o principal livro didático nas allmueskoler (escolas comunitárias), tanto para ensino religioso quanto para o modersmålet (língua materna).

Com o crescimento do aparato estatal e da pietista protestante, as autoridades do reino multinacional do qual a Noruega fazia parte começaram a investir seriamente na criação de escolas. Foram implementadas leis que abrangiam a universidade (1732), a confirmação religiosa (1736), a lei sobre as allmueskoler no campo (1739) e as escolas de latim (1739). Uma regulamentação de 1741 colocou a responsabilidade pelas allmueskoler fora das cidades sob os prestegjeld (distritos eclesiásticos).

Nesse sistema, por mais de um século, as omgangsskoler (escolas itinerantes) foram a forma predominante de ensino no país. A partir de 1740, o currículo dessas escolas comunitárias incluía habilidades básicas pietistas, como o aprendizado do catecismo, a leitura de textos bíblicos conhecidos, muitas vezes complementados por canto de salmos. Escrita e aritmética eram disciplinas opcionais.

Nas cidades, as escolas de latim continuavam com foco em línguas clássicas e literatura, ao lado de ensino cristão. A partir de meados do século XVIII, o currículo foi ampliado com a inclusão de língua materna, geografia e história. As primeiras instituições de ensino superior na Noruega foram estabelecidas por volta de 1750, incluindo uma escola militar em Christiania (atual Oslo), a Den frie mathematiske Skole (Escola Livre de Matemática) em 1750, e a academia de mineração de Kongsberg (Kongsberg bergseminar) em 1757.

Nas cidades, também foram fundadas borgerskoler (escolas burguesas) que preparavam os alunos para a vida prática, como em Trondheim (1783), Bergen (1806) e Christiania (1812). Essas escolas tinham classes específicas para meninas, rompendo com o monopólio masculino na educação formal de longa duração.

Século XIX: Universidade Norueguesa e Ministério do Conhecimento

A decisão de fundar uma universidade na Noruega foi tomada em 1811, iniciando suas atividades em 1813. Seguindo o modelo dinamarquês, o exame de admissão à universidade, examen artium, tornou-se um exame nacional. Essa conexão direta entre estudos universitários e escolas secundárias de nível avançado permaneceu por muito tempo.

Com a Constituição de 1814, foi criado um ministério para os assuntos da igreja estatal e da educação. A partir de 1818, esse ministério recebeu o nome de Kirke- og undervisningsdepartementet (Ministério da Igreja e Educação), que manteve esse título por mais de 150 anos.

Após 1814, cresceu a demanda por melhorias nas allmueskoler. Em 1827, a lei das escolas comunitárias rurais foi revisada. Novos elementos incluíam a criação de escolas fixas próximas às igrejas principais e fábricas, além da criação de seminários de formação de professores em cada uma das cinco dioceses. As omgangsskoler continuaram a existir, com escolaridade obrigatória dos 7–8 anos até a confirmação religiosa, e frequência mínima de dois meses por ano. Em 1848, foi promulgada uma lei específica para escolas urbanas, introduzindo disciplinas como trabalhos manuais para meninas e ginástica para meninos, além de aumentar o tempo de aula semanal.

Escolas Populares (Folkehøyskoler)

A partir de meados do século XIX, fortes movimentos nacionalistas começaram a moldar a sociedade norueguesa. Patriotismo nacional, políticas de norueguização e questões linguísticas, juntamente com a demanda por maior democracia política, tornaram-se fatores importantes para o avanço da educação e do conhecimento público. O movimento thranitterbevegelsen (Movimento de Thranes) foi pioneiro ao exigir que uma escola popular comum substituísse as escolas segmentadas por classes sociais.

A crítica ao que era chamado de den sorte skole (a escola negra) — baseada em latim e grego — se espalhou por toda a Escandinávia, inspirada por ideias de Nikolai Grundtvig, um reformador dinamarquês. Na Noruega, esforços de reforma educacional levaram à fundação da Selskabet for Folkeoplysningens Fremme (Sociedade para a Promoção da Educação Popular) em 1851.

As escolas agrícolas foram algumas das primeiras instituições de ensino técnico, e, após 1840, quase todas as regiões norueguesas tinham escolas agrícolas. Em 1864, foi fundada a primeira folkehøyskole (escola popular) norueguesa.

Escola Fixa

A Lei de 1860 sobre escolas comunitárias rurais determinou que as escolas fixas se tornassem o padrão. Em menos de uma década, mais de 80% das crianças frequentavam escolas fixas. Uma comissão escolar liderada pelo pároco local era responsável por supervisionar as escolas nos municípios, e cada diocese tinha seu próprio diretor escolar.

A recomendação de um novo livro didático, escrito pelo arcediago P.A. Jensen, marcou uma ruptura com a tradição escolar pietista. O Lesebog for Folkeskolen og Folkehjemmet (Livro de Leitura para a Escola Popular e o Lar Popular) trouxe conhecimento moderno em história, geografia, ciências naturais e descrições da vida cotidiana, incorporando temas nacionais e modernos ao currículo.

Essa tendência continuou com as leis escolares de 1889, que consolidaram disciplinas modernas e nacionais como a base dos planos de ensino.

Escolas Superiores

A crescente crítica às tradições das escolas de latim fortaleceu as demandas por disciplinas modernas, como línguas estrangeiras e ciências exatas, em escolas superiores. Em 1869, foi promulgada a lei das høyere allmennskoler (escolas secundárias gerais superiores).

Após uma escola preparatória paga ou três anos na allmueskole, os estudantes poderiam ingressar em uma escola secundária de seis anos, chamada middelskole, que oferecia duas opções: a linha de latim ou a linha de inglês. O exame oficial da middelskole foi introduzido na mesma época e, junto com o artium, estruturava o sistema escolar superior como um modelo voltado para exames.

Em 1879, foi instituído um exame de middelskole específico para meninas, marcando um progresso significativo na inclusão feminina na educação superior. No entanto, o gymnas (equivalente ao ensino médio de hoje) ainda era exclusivo para meninos. O currículo do gymnas era dividido em dois ramos: o latingymnas, que incluía latim e grego, e o realgymnas, que dava ênfase à matemática, ciências naturais e inglês.

Parlamentarismo e a escola pública comum desde a década de 1880

Após a queda do estado burocrático com a introdução do parlamentarisme (parlamentarismo) em 1884, todo o sistema escolar foi rapidamente reformado. Ao longo de uma década, os governos liderados pelo Venstre (Partido da Esquerda) promoveram um conjunto de reformas que transformaram a luta pelo folkestyre (governo do povo) em programa escolar. A språklig likestilling (igualdade linguística) entre bokmål (idioma oficial) e nynorsk (linguagem do campo), novas matérias de habilidades e as disciplinas nacionais de norsk (norueguês) e historie (história) foram áreas-chave.

Em 1889, o Storting (Parlamento Norueguês) aprovou uma nova legislação para uma escola para todas as camadas da sociedade, a folkeskolen (escola popular), ainda com leis separadas para a cidade e o campo. A folkeskolen passou a ser de sete anos para crianças de 7 a 14 anos. No campo, o tempo de ensino foi de 12 semanas por ano. Nas cidades, as aulas eram de 18 a 30 horas por semana, durante 40 semanas ao ano. As turmas não podiam ter mais de 35 alunos, mas podiam excepcionalmente ter até 40-45. Cada município recebeu uma skolestyre (diretoria escolar), onde eleitos, junto com o pastor e o representante dos professores, participavam. As crianças deveriam aprender a ler tanto landsmaal (idioma rural) quanto rikmaal (idioma oficial), e várias distritos escolares começaram a adotar o landsmaal como língua principal no ensino. Em áreas samiske (sami), a política de fornorsking (norueguização) teve alta prioridade durante o estado de Venstre.

O acesso das mulheres à educação superior foi expandido no mesmo período. Em 1882, as mulheres ganharam o direito de fazer o examen artium (exame de maturidade), e, a partir de 1884, puderam acessar os exames universitários. A partir de 1890, as mulheres puderam se inscrever nos lærerseminarene (seminários para professores), e a lei sobre ensino superior de 1896 substituiu as turmas divididas por gênero por ensino conjunto, onde meninas e meninos frequentavam a mesma classe. Até então, não era incomum ter escolas separadas para meninas nas grandes cidades. A maioria das pikeskoler (escolas para meninas) foi encerrada até 1920, com a expansão da oferta escolar pública gratuita e uma forte redução das escolas privadas pagas.

O ensino superior foi reformado por lei em 1896. Os alunos poderiam escolher riksmål ou landsmål como língua principal, e a partir de 1907, foi introduzido exame escrito também no sidemål (língua secundária). O middelskolen (ensino secundário) passou a ser de quatro anos e deveria se basear diretamente nos primeiros cinco anos da folkeskole (escola popular) pública gratuita ou no ensino privado preparatório. O gymnaset (ginásio) passou a ser de três anos e passou a ter uma linha linguístico-histórica (linha de inglês) e uma linha prática. A linha de latim foi abolida, mas algumas escolas continuaram a ensiná-lo por um tempo.

Com essa longa sequência de reformas de Venstre, o sistema escolar nas cidades da Noruega já em 1900 tinha, em grande parte, as mesmas disciplinas educacionais gerais tanto na folkeskole quanto no ensino superior, além da transição direta dos cinco anos de folkeskole para o ensino superior. Após a introdução do parlamentarisme, o exame do ensino secundário como ponte da folkeskole para o gymnas foi adotado posteriormente na Dinamarca e na Suécia.

Escola comum para todos (1920)

Após a dissolução da união em 1905, a exigência de que toda a educação subsequente fosse baseada na folkeskole de sete anos concluída se tornou cada vez mais forte. Desde 1920, a Noruega tem mantido a mesma escola básica para todas as crianças. Durante a tramitação do orçamento em 24 de março de 1920, o Storting adotou como princípio que o apoio estatal às escolas superiores dependeria da conclusão da folkeskole como critério de admissão. A decisão foi chamada de enhetsskolevedtaket (decisão da escola unificada). Após 15 anos de comissões e cortes nos gastos públicos, uma revisão abrangente das leis e dos currículos foi realizada a partir de 1935 e nos anos seguintes. As reformas fortaleceram a coesão em um sistema escolar norueguês com folkeskole, framhaldsskole (escola secundária), ensino superior com realskole (escola secundária geral) e gymnas, além de yrkes- og fagskoler (escolas técnicas e vocacionais).

As reformas educacionais desses anos representaram um amplo acordo político e profissional sobre o sistema escolar com a escola comum e o ensino ativo dos alunos como características centrais. Esse compromisso pedagógico e político foi implementado ao mesmo tempo em que o primeiro grande acordo entre os parceiros do mercado de trabalho e o acordo de crise no Storting. A nível governamental, o conjunto de reformas escolares dos anos 1930 foi liderado pelo Arbeiderpartiet (Partido Trabalhista), enquanto, com poucas exceções, teve apoio da maioria dos partidos no Storting. As medidas se basearam em uma grande colaboração de pesquisa das organizações de professores para a folkeskole e o ensino superior e marcaram um avanço corporativo e pedagógico na reforma do sistema educacional. Na prática, esse modelo de colaboração perdurou até as reformas de 1990.

Em uma entrevista de rádio para a NRK em 1938, Nils Hjelmtveit, que na época era Ministro da Igreja e da Educação, caracterizou a nova política educacional dizendo: “O objetivo da política educacional em qualquer sociedade democrática deve ser uma escola democrática do início ao fim.” Nem a economia nem a geografia deveriam determinar o acesso à educação, apenas as habilidades e aptidões. Toda a educação deveria ser gratuita, e o apoio público adicional era necessário para crianças e jovens de famílias com menos recursos.

Educação de massa e longa escolaridade para todos (1950–1990)

Após a Segunda Guerra Mundial, houve uma ampla expansão tanto das escolas técnicas quanto das escolas secundárias e gymnas. Escolas públicas de oficinas e escolas comerciais foram ampliadas ao lado de escolas agrícolas, escolas técnicas, escolas de economia doméstica e outras escolas vocacionais. A expansão escolar criou a base para uma escola comum além da folkeskole. Ao longo de duas décadas, a partir de 1955, foi encerrado o sistema escolar com a folkeskole como uma escola comum curta (enhetsskole). Em três fases de reformas – nas décadas de 1970, 1990 e após 2006 – foi desenvolvida uma longa escola comum com mais etapas.

A partir de 1959, foi introduzida pela primeira vez uma legislação unificada sobre a folkeskole nas áreas rurais e urbanas. O foco das mudanças foi fortalecer as folkeskolene fora das cidades. De 1950 a 1970, o número de escolas primárias foi reduzido de mais de 5500 para cerca de 3000 escolas primárias. O princípio da escola comum foi expandido com a introdução da grunnskole (escola básica) para todos na década de 1960 e foi desenvolvido nas reformas posteriores da grunnskole e do ensino secundário. Em 1962, o Storting aprovou que, daqui para frente, os fylkene (condados) seriam responsáveis pela educação secundária. Isso estabeleceu as bases para a divisão pública de propriedade e responsabilidade no setor educacional: os municípios são responsáveis pela grunnskole, o estado pela educação superior e os fylkene pelo nível intermediário. Essa divisão mais tarde serviu como estrutura para o desenvolvimento e coordenação de uma escolaridade longa para todas as crianças e jovens.

Na grunnskole de nove anos, o princípio da enhetsskole foi entendido como a ideia de que todos devem ter o mesmo nível básico de oferta educacional, independentemente da origem familiar, geografia ou gênero. No ungdomsskole (ensino médio), a partir daí, sempre que possível, a escolha de disciplinas orientadoras deveria ser postergada. A década de experimentos começou com a tentativa de linha comum e orientada para o mercado de trabalho. A partir de meados da década de 1960, o modelo de escolha de linha foi substituído por nivådifferensiering (diferenciação de níveis) com a escolha de planos de ensino em várias etapas, limitados aos três fellesfagene (disciplinas comuns) norsk (norueguês), engelsk (inglês) e matematikk (matemática). Com o Normalplan para a grunnskole de 1974, também foram abolidas as escolhas orientadoras de nível nessas matérias comuns. A diferenciação qualitativa nas classes agrupadas, juntamente com as valgfag (disciplinas eletivas) que não qualificavam para o videregående skoler (ensino secundário), formavam os limites da variação. Os tipos de ensino secundário foram adaptados à grunnskole comum, e a admissão ao gymnas exigia que o aluno tivesse escolhido dois idiomas estrangeiros. As estratégias adotadas mostram como o modelo escolar do estado de bem-estar social representava uma priorização cuidadosa, mas clara, de que apenas o caminho escolar acadêmico era reconhecido como a base para uma educação acadêmica de longo prazo.

Uma inovação de 1970 foi a introdução de uma lei complementar sobre escolas privadas, permitindo o acesso a apoio público para a operação. A legislação foi alterada diversas vezes, muitas vezes de acordo com as mudanças nos governos. As escolas privadas, que não são de propriedade de municípios ou fylker, ainda representam uma pequena proporção do número total de escolas no país.

De escolas especiais para ensino especializado (1880–)

Algumas escolas especiais para crianças que não aproveitariam o ensino comum foram criadas no século XIX. Em 1881, foi aprovada a primeira lei sobre escolas para crianças “anormais”. A lei abrangia crianças surdas, cegas e com deficiência intelectual, e as escolas poderiam ser estatais, privadas ou municipais com apoio estatal. A lei foi revisada em 1915. Em 1896, o Storting aprovou uma lei sobre conselhos de tutela municipais, lares escolares estatais e escolas obrigatórias municipais. Simultaneamente, a idade mínima para a criminalidade foi elevada de 10 para 14 anos. Comportamentos problemáticos entre crianças abaixo da idade mínima criminal passaram a resultar em educação e não em punição, mesmo que tivessem cometido crimes.

Em 1951, foi aprovada uma lei sobre spesialskoler (escolas especiais), que forneceu uma base legal para a educação de cinco tipos de deficiência: auditiva, visual, de fala, deficiência mental e dificuldades psicossociais de adaptação. A lei também ampliou o mandato pedagógico especializado para surdos e com deficiência auditiva, cegos e com visão reduzida. Ao mesmo tempo, crianças com dificuldades de leitura, escrita e fala receberam direitos específicos de ensino. Em 1955, foi aprovada uma emenda às leis da folkeskole que exigia que os municípios oferecessem hjelpeopplæring (ensino de apoio) e acelerou o ensino especializado dentro da folkeskole, com a criação de hjelpeklasser (turmas de apoio) e observasjonsklasser (turmas de observação) para crianças e jovens com dificuldades de adaptação.

Uma legislação unificada sobre escolas para todas as crianças e jovens foi introduzida a partir da metade da década de 1970, e a oferta pedagógica especializada passou a fazer parte da responsabilidade da grunnskole. Com essa onda de integração, houve o fechamento de muitas escolas especiais estatais. A partir dessa época, as tarefas pedagógicas especializadas passaram a envolver creches, ensino secundário e aconselhamento. Paralelamente à expansão da fellesskole (escola comum), houve um crescimento na separação de alunos da escola regular para o setor especializado em educação.

Educação superior – rápido crescimento desde 1960

Após a fundação da Universitetet i Oslo (Universidade de Oslo) em 1811, o crescimento da educação superior foi, por muito tempo, modesto. A Norges landbrukshøgskole (Escola Norueguesa de Agricultura) iniciou suas atividades em Ås em 1859, mas começou a oferecer uma educação mais ampla apenas em 1897. A Norges tekniske høgskole (Escola Técnica Norueguesa) foi criada em 1910 e localizada em Trondheim. A Norges veterinærhøgskole (Escola de Veterinária Norueguesa) foi criada em 1918, a Norges lærerhøgskole (Escola de Formação de Professores Norueguesa) em 1922, e a Norges Tannlegehøyskole (Escola de Odontologia Norueguesa) em 1928. A Norges Handelshøyskole (Escola de Economia e Negócios de Bergen) foi fundada em 1936. A Universitetet i Bergen (Universidade de Bergen) foi criada pelo Storting em 1946. A Universitetet i Tromsø (Universidade de Tromsø) foi estabelecida em 1968, e no mesmo ano, a Universitetet i Trondheim (Universidade de Trondheim) foi formada com a integração da NTH e da Norges lærerhøgskole.

A partir de cerca de 1970, foi estabelecido um setor próprio de educação superior fora das universidades.

A partir de 1969, várias distrikthøgskoler (faculdades distritais) foram fundadas, e nos anos seguintes, muitas escolas profissionais foram expandidas para høyskoler (faculdades), com a responsabilidade de formar professores, enfermeiros, assistentes sociais e engenheiros. Essas høyskoler foram organizadas por condados em um setor regional de faculdades. Em 1989, as universidades e as faculdades científicas foram reunidas sob uma lei comum. A partir de 1994, quase 100 faculdades regionais foram consolidadas em 26 faculdades estaduais, e no ano seguinte, foi introduzida uma legislação única para universidades e faculdades estaduais. Em 2005, uma lei para universidades e faculdades foi criada, também abrangendo as instituições privadas de educação superior.

O percurso educacional cresce (de 1990 até hoje)

Desde 1990, o sistema educacional tem se expandido. Todos têm direito à educação secundária, e cada vez mais pessoas estão cursando o ensino superior. A educação infantil tornou-se uma parte integrada do percurso educacional.

A partir de 1994, todos os jovens, além da grunnskole (ensino básico), passaram a ter direito à educação secundária gratuita. Simultaneamente, o modelo de ensino secundário passou a abranger tanto a educação profissional quanto a preparação para os estudos acadêmicos. Um tema recorrente foi aproximar o ensino profissional da educação acadêmica voltada para a preparação para os estudos. Com a Reforma 97 e a nova grade curricular, a grunnskole passou a ter dez anos. Em 1998, foi aprovada a Opplæringsloven (Lei de Educação), com um conjunto de normas para o ensino básico e o ensino secundário.

Historicamente, as reformas dos anos 1990 refletiram uma ambição de criar um melhor equilíbrio entre a tradição escolar acadêmica com exames e o ensino técnico-profissional voltado para a formação de artesãos e mestres. As ambições incluíam o desenvolvimento de algumas vias para conectar as profissões com especializações adicionais, por meio de fagskoler (escolas técnicas) e estudos em universidades e faculdades.

Desde 1990, as instituições educacionais também passaram a atender faixas etárias mais jovens. O skolefritidsordning (SFO), em algumas áreas chamado de Aktivitetsskole (Escola de Atividades), tornou-se um serviço permanente nas escolas primárias a partir de 1991. A educação infantil também se tornou uma medida comum e parte do setor educacional. A área de educação infantil foi transferida para o Kunnskapsdepartementet (Ministério da Educação) em 2006, e o direito à vaga em creches foi garantido por lei em 2009. Para creches e SFO, o princípio da gratuidade não se aplica aos benefícios educacionais do estado de bem-estar social. As creches são frequentemente administradas por proprietários privados sem fins lucrativos ou por organizações que operam sob um modelo de negócios privado. O funcionamento da SFO fica sob a responsabilidade dos municípios, que são os proprietários das escolas. Os preços variam entre os municípios, e em alguns locais o serviço é gratuito. Em 2020, cerca de 60% das crianças do primeiro ao quarto ano participaram de atividades no SFO.

Historicamente, áreas de conflito recorrentes têm estado principalmente relacionadas à acessibilidade das escolas e tipos de escolas. A acessibilidade física foi determinada por escolhas de localização, expansão, centralização e, em alguns períodos, pela extinção de escolas. O número de folkeskoler foi reduzido quase pela metade entre 1950 e 1970. Nas últimas décadas, após os municípios e os fylker (condados) receberem responsabilidades locais abrangentes como proprietários das escolas, o fechamento de escolas passou a ser uma pauta mais frequente.

Certos requisitos para quem deseja prosseguir na escola também limitaram o acesso de grandes grupos. Fatores determinantes para como as escolas básicas e superiores se conectam foram, em grande parte, os requisitos para o ensino de línguas estrangeiras. A tradição que remonta à Idade Média, com o ensino de latim nas escolas superiores, foi abandonada na Noruega antes de 1900, mais de 50 anos antes de o ensino de latim ser abolido nas escolas de muitos países da Europa. Durante quase um século, entre 1870 e 1960, o ensino de inglês nas folkeskole foi uma barreira, até que o inglês passou a ser ensinado a todos na educação básica. Na transição do ensino secundário para faculdades e universidades, os requisitos normais incluíam dois idiomas estrangeiros, matemática, ciências sociais e uma disciplina de ciências naturais.

O termo utdanningsløp (percurso educacional) se tornou comum nos últimos 25 anos. A infância e a adolescência tornaram-se mais escolarizadas do que nunca. Desde o fim do milênio, a atenção sobre o conhecimento como um recurso estratégico para a sociedade aumentou. Em 2003, foi introduzido o kvalifikasjonsrammeverk (quadro de qualificações) e as felles europeiske rammer (normas europeias comuns) como base para as regulamentações nacionais do ensino superior na Noruega. O teste internacional PISA, desenvolvido pela OCDE e outras pesquisas supranacionais de conhecimento, tornou-se uma medida comum de qualidade das escolas na Noruega. O Utdanningsdirektoratet (Diretório de Educação) foi criado em 2004, funcionando como um centro administrativo e técnico para a gestão do setor de educação básica.

A reforma Kunnskapsløftet (Acelerando o Conhecimento) foi implementada em 2006. Os novos currículos para a educação básica definiram listas de metas de competência para os alunos. O currículo também estabeleceu algumas habilidades fundamentais, como leitura, escrita, cálculo, habilidades orais e digitais. Os diretores das escolas passaram a ter responsabilidade pelos resultados e funções de controle. A partir de 2020, novos currículos foram introduzidos com a reforma chamada Fagfornyelsen (Renovação dos Cursos). Os currículos mudaram a parte geral e direcionada por valores, e três temas interdisciplinares foram adicionados aos cinco campos de habilidades fundamentais, além dos currículos disciplinares tradicionais. Em cada plano de disciplina, cada matéria passou a definir alguns temas centrais, chamados de kjerneelementer (elementos centrais), que são comuns a todos os níveis em que a matéria é ensinada. As metas de competência por disciplina aumentaram em número, mas ficaram mais gerais.

Essa tradução fornece uma visão abrangente sobre as mudanças e reformas na educação norueguesa desde 1990. Se precisar de mais detalhes ou tiver alguma dúvida, fico à disposição!

Século XX: Educação Pública e Igualdade

No início do século XX, a Noruega avançou em direção a um sistema educacional mais igualitário e acessível.

Educação e a Construção do Estado de Bem-Estar
Durante essas décadas, a Noruega consolidou seu velferdsstat (estado de bem-estar social), e o sistema escolar tornou-se um dos pilares dessa construção. A escola comum para todos era vista como um meio de:

  1. Reduzir desigualdades sociais;
  2. Identificar e desenvolver talentos em toda a população;
  3. Fornecer uma educação abrangente que promovesse o desenvolvimento de cidadãos ativos na sociedade.

Foco em Igualdade de Gênero
A partir dos anos 1960, as mulheres começaram a superar os homens em níveis educacionais. Essa tendência foi reforçada por políticas educacionais que promoveram a igualdade de gênero e abriram as portas para as mulheres em todas as áreas de estudo.

Educação Moderna e Desafios

Reformas Curriculares
Nas últimas décadas do século XX, várias reformas educacionais foram introduzidas. Uma das mais significativas foi a Reform 94, que estabeleceu a escolaridade obrigatória até os 16 anos e integrou programas de educação geral e profissional.

Outro marco foi a Kunnskapsløftet (A Elevação do Conhecimento), uma reforma de 2006 que atualizou os currículos, enfatizando competências básicas como leitura, escrita, matemática e o uso de tecnologia.

Educação Superior e Pesquisa
Com a criação de novos centros universitários e faculdades regionais ao longo do século XX, a Noruega ampliou o acesso à educação superior. O sistema universitário passou a ter um papel essencial no desenvolvimento econômico e na inovação tecnológica.

Diversidade e Inclusão
Nas últimas décadas, a Noruega também enfrentou novos desafios relacionados à diversidade cultural e imigração. O sistema educacional foi adaptado para atender alunos de diferentes origens culturais e linguísticas, reforçando o papel da escola na promoção da integração e do entendimento intercultural.

Educação Hoje

Atualmente, o sistema educacional norueguês é reconhecido por sua qualidade e ênfase em igualdade de oportunidades. Os princípios fundamentais continuam a ser:

  • Inclusão;
  • Promoção da igualdade social;
  • Desenvolvimento de cidadãos críticos e ativos.

Saiba mais como funciona hoje o sistema educacional na Noruega, clicando aqui.

Leia mais:

Bibliografia

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Fontes:

Store norske leksikon

norgeshistorie.no