
História da educação na Suécia desde o século XII até hoje
27 de janeiro de 2025A história da educação na Suécia é uma jornada de transformação, desde as escolas medievais ligadas à Igreja até um sistema moderno, inclusivo e igualitário. A Suécia continua a ser um modelo global em educação, embora enfrente desafios contemporâneos que exigem adaptação e inovação contínuas. Mas a seguir, o início desde o século XII.
Origens Medievais (séculos XII–XVI)
A educação na Suécia tem suas raízes na Idade Média, quando a Igreja Católica era a principal instituição responsável pelo ensino. As primeiras escolas surgiram em mosteiros e catedrais, como a Escola da Catedral de Uppsala, fundada no século XII. Essas instituições eram voltadas para a formação do clero e da elite, com um currículo baseado em teologia, filosofia e leis canônicas, tudo ensinado em latim.
A alfabetização era limitada à nobreza e ao clero, e o acesso à educação para a população em geral era praticamente inexistente. A Igreja mantinha o monopólio do conhecimento, e os livros eram manuscritos e raros, restritos às bibliotecas monásticas.
Reforma Protestante e Educação Básica (século XVI–XVIII)
A Reforma Protestante, liderada por Martinho Lutero no século XVI, teve um impacto profundo na Suécia. O país adotou o luteranismo como religião oficial, e a educação passou a ser vista como uma ferramenta para fortalecer a fé e a moralidade. A Igreja Luterana assumiu um papel central na educação, e o Estado começou a se envolver mais diretamente.
A Lei da Igreja de 1686 (Kyrkolagen) foi um marco importante. Ela estabeleceu que todas as crianças deveriam aprender a ler para entender a Bíblia e os textos religiosos. Surgiram as escolas paroquiais (“församlingsskolor“), que eram administradas pelas paróquias locais. No entanto, a frequência era irregular, e muitas crianças, especialmente nas áreas rurais, ainda não tinham acesso à educação formal.
Nesse período, a educação era voltada principalmente para meninos, mas algumas meninas também recebiam instrução em casa ou em escolas particulares. O currículo incluía leitura, escrita, aritmética básica e, claro, estudos religiosos.
Século XIX: Modernização e Compulsoriedade
O século XIX foi um período de grandes mudanças na educação sueca, impulsionado pelo Iluminismo e pela industrialização. A necessidade de uma população mais educada para acompanhar as transformações econômicas e sociais levou a reformas significativas.
- 1842: A Lei da Escola Elementar (Folkskolestadgan) foi aprovada, tornando a educação primária obrigatória para todas as crianças. Essa lei criou as escolas públicas (“folkskolor“), que ofereciam educação básica gratuita. O currículo incluía leitura, escrita, aritmética, religião e, em algumas áreas, noções de história e geografia. A lei também estabeleceu que cada paróquia deveria ter pelo menos uma escola.
- 1858: As primeiras escolas para meninas (“flickskolor“) foram criadas, marcando o início de uma maior inclusão das mulheres no sistema educacional. No entanto, a educação para meninas ainda era focada em habilidades domésticas e cultura geral, enquanto os meninos recebiam uma formação mais acadêmica.
- Universidades: As universidades suecas, como Uppsala (fundada em 1477) e Lund (1666), expandiram-se durante o século XIX, com um foco crescente em ciências naturais, medicina e humanidades. A Universidade de Uppsala, em particular, tornou-se um centro de pesquisa e inovação, contribuindo para o desenvolvimento científico do país.
Século XX: Reformas e Igualdade
O século XX foi marcado por reformas abrangentes que transformaram o sistema educacional sueco em um dos mais igualitários e inclusivos do mundo.
- 1962: A reforma “Enhetsskolan” (Escola Unificada) unificou o sistema educacional, criando a “grundskola”, uma escola básica de 9 anos, gratuita e obrigatória para todas as crianças. Essa reforma eliminou a divisão entre escolas primárias e secundárias e garantiu que todos os alunos, independentemente de sua origem socioeconômica, tivessem acesso à mesma educação de qualidade.
- 1977: As universidades públicas suecas tornaram-se totalmente gratuitas, eliminando as taxas de matrícula e garantindo acesso igualitário ao ensino superior.
- Década de 1990: O sistema educacional passou por uma descentralização, com a transferência de responsabilidades para os municípios e as próprias instituições de ensino. Isso permitiu maior flexibilidade e adaptação às necessidades locais, mas também trouxe desafios, como a variação na qualidade da educação entre diferentes regiões.
Ensino Superior: Expansão e Internacionalização
O ensino superior na Suécia também passou por transformações significativas ao longo do século XX e início do XXI.
- Século XIX–XX: Novas universidades foram fundadas, como a Universidade de Estocolmo (1878) e a Universidade de Gothenburg (1891), expandindo o acesso ao ensino superior e diversificando as áreas de estudo.
- 1977: A criação dos “högskolor” (institutos politécnicos) trouxe uma nova dimensão ao ensino superior, com foco em educação técnica e profissionalizante.
- 2007: A Suécia adotou o Processo de Bolonha, alinhando seu sistema de diplomas ao padrão europeu (Bachelor, Master, PhD). Isso facilitou a mobilidade internacional de estudantes e pesquisadores e aumentou a competitividade das universidades suecas no cenário global.
Século XXI: Desafios e Inovação
No século XXI, a educação sueca continua a evoluir, enfrentando novos desafios e incorporando inovações.
- Digitalização: A Suécia tem sido pioneira na integração de tecnologias digitais na educação. Plataformas como o “Skolverket” (Agência Nacional da Educação) fornecem recursos digitais para professores e alunos, e muitas escolas adotaram tablets e computadores como ferramentas de ensino.
- Sustentabilidade: A educação ambiental tornou-se uma prioridade, com tópicos como mudanças climáticas e desenvolvimento sustentável sendo integrados ao currículo escolar.
- Crise de Alfabetização: Relatórios recentes, como os do PISA (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes), mostraram uma queda no desempenho dos alunos suecos em leitura e matemática. Isso gerou debates sobre métodos pedagógicos e a necessidade de reformas para melhorar a qualidade do ensino.
- Inclusão e Diversidade: A Suécia tem trabalhado para garantir que o sistema educacional seja inclusivo para todos, incluindo imigrantes e refugiados. Programas de ensino de sueco como segunda língua e apoio a alunos com necessidades especiais são prioridades.
Curiosidades
- A Suécia foi um dos primeiros países a abolir castigos físicos em escolas, em 1958, refletindo seu compromisso com os direitos das crianças.
- O modelo de “educação democrática” é amplamente praticado, com os alunos participando ativamente das decisões escolares e tendo voz em sua própria educação.
- A Suécia é conhecida por seu sistema de “educação livre”, onde os alunos têm grande autonomia para escolher suas áreas de estudo e ritmo de aprendizagem.
Fontes consultadas em sueco:
- Skolverket (Agência Nacional de Educação da Suécia)
- Universidades suecas (ex.: Uppsala universitet, Lunds universitet)
- Regeringen.se (Site do governo sueco)
- Historiska institutionen (Instituto de História da Universidade de Estocolmo)